01 dezembro, 2007

Por favor *

Por favor, não me deixe ficar velho. Não me deixe ficar doente, e menos ainda estúpido. Não deixe o cotidiano, a rotina e a mesmice do dia-a-dia me tirarem a coragem, a criatividade e a ousadia.

Faça com que o tempo me torne ainda mais desperto. Não embace minha memória e nem atrase meu pensamento.

Por favor, não me faça ficar só. Cuide dos meus amigos e dos meus amores, faça com que os primeiros nunca me deixem e com que os segundos nunca parem de entrar e sair da minha vida.

Faça-me cada vez mais bravo. Para que eu possa enfrentar os obstáculos que me aparecem e vencer todas as batalhas que preciso travar, principalmente as internas, contra mim mesmo.

Por favor, faça-me, um dia, entender a beleza de olhar para a lua. Se possível for, faça com que eu consiga isto ao lado da mesma pessoa por muito tempo.

Eu sei que é difícil, mas faça com que as pessoas não percam seu colorido tão rápido quanto elas têm perdido.

E, por favor, não me deixe ficar velho.

* Inspirado em: Warren Zevon - Don't let us get sick

22 novembro, 2007

Eu confesso...

Eu confesso que, quando criança, afrouxei a tampa dos saleiros de praticamente todos os restaurantes que meus pais me levavam, afrouxei também a tampa do recipiente de sabão líquido de muitos banheiros, principalmente os da sede campestre da Assembléia Paraense. Nessa mesma época, “pegava” muito chocolate nas prateleiras das Lojas Americanas, ao lado do Cinema Olímpia.

Confesso também que a primeira vez que matei aula foi entre 1988 e 1990, na Gessy’s da Avenida Serzedelo Corrêa. Pedi para ir ao banheiro, arrumei meus livros naquela sacolinha branca e fui me sentar em uma cadeira ao lado da recepcionista, que deve ter achado muito normal, pois não me perguntou nada durante os 45 minutos que fiquei esperando minha mãe me pegar. Também por volta desse período, confesso joguei um tijolo na vidraça de uma casa próxima à Avenida Benjamin Constant, em minha defesa alego que estava escuro e meu amigo Nadim havia me dito que a janela estava aberta.

Confesso que fui eu quem jogou aquela carga de caneta no ventilador de teto da quarta série no Colégio Kennedy, deixando praticamente todos os alunos, inclusive eu, salpicados de tinta vermelha. Também confesso que já passei muito trote por telefone, a maioria foi para números aleatórios, mas alguns conhecidos também não escaparam.

Quando eu estava no segundo grau, no Colégio Moderno, confesso que a idéia de subir em uma escada e jogar o lixo em cima de uns garotos que estavam jogando bola foi minha, mas meu amigo Gerson entendeu errado e, junto com o lixo, jogou a lixeira, que era enorme. Dito isto, não assumo a autoria intelectual de nenhuma das outras coisas, não menos erradas, feitas pela minha turma.

Confesso que na virada do ano de 2003 para 2004 misturei tanta vodka com whisky que, no final da noite, meu amigo Marcus teve que me levar para tomar glicose. Infelizmente não estava em condições de me lembrar em qual hospital fomos, para jamais pisar lá novamente.

Confesso que já menti; que já confundi atração com paixão e paixão com amor; que já ofereci minha amizade para que não merecia e depois me arrependi; que já investi tudo em uma paixão que sabia que não ia dar certo e sofri as consequências disso; que disse que ia ligar e não liguei, mas também jurei para mim mesmo que não ia ligar e liguei.

Confesso que ri muito à medida que fui me lembrando desses pequenos e grandes erros do meu passado. Confesso que omiti os mais pesados e enfeitei os mais sem-graças. Confesso também que já errei bastante e pretendo continuar por muito tempo assim.

Errando e aprendendo e errando e vivendo e errando.

12 novembro, 2007

Hoje pensei em nós

Hoje pensei em nós, lembrei da noite, do frio e dos risos. No meio daquela gente estranha, ao som daquela música terrível e do insuportável cheiro de cigarro, não sei porquê, mas pensei em nós. Lembrei do teu riso, da noite fria, da cerveja gelada e dos beijos, mal me lembro dos beijos, sabia? Pra quê tanta cerveja, meu Deus? Quantas foram? Não me lembro. Lembro, sim, da imensa alegria que senti, alegria de criança quando ganha brinquedo novo, alegria de quem consegue chegar ao topo da montanha mais alta, alegria de quem almeja e realiza o impossível, foi o que senti naquelas horas, disso eu não esqueço. Ainda naquele restinho de madrugada eu não conseguia acreditar no que tinha acontecido, no fundo eu sabia que jamais se repetiria, mas, sozinho, fiz planos para nós. Nos dias seguintes eu sofri, chorei e me tratei mal, senti vergonha de você e acho até que te pedi desculpas, ou não? Planejei te conquistar com promessas e palavras, mas, nem lembro porquê, desisti. Passaram-se os dias, as semanas e os meses, eu fui embora, você foi embora, você voltou, eu voltei, você foi embora de novo, e eu fiquei, aqui, onde tudo começou e acabou em uma noite apenas. Depois de tanto tempo, quanto? Um ano? Já? Eu tentei e falhei tanto que perdi a fé, não sei porquê, mas ninguém conseguiu ocupar o seu lugar. Sofri e fiz sofrer muito, e não consegui te substituir. Vou vivendo assim, apenas com as lembranças. Às vezes eu nem lembro, mas, não sei por qual motivo, hoje pensei em nós.

05 novembro, 2007

Cerveja, Cigarro e Sexo

Eu sou o que pode ser chamado de um fumante ocasional, não fumo diariamente, somente as vezes, quando bebo. Ela é uma fumante inveterada, fuma quando acorda, quando trabalha, quando come e antes de ir dormir.

Eu não a suporto, mas não a resisto, ela é meu vicio assim como o cigarro é o dela, tão prejudicial quanto.

E toda noite de sábado é a mesma coisa: cerveja, cigarro e sexo.

Não a suporto de verdade e ela sabe, me liga durante a semana para me provocar, e eu não atendo, irritado, do outro lado ela deve morrer de rir. Não atendo.

Mas todo sábado é a mesma coisa, eu não consigo, preciso ligar.

Uma sala escura com dezenas de pessoas dançando ao som de uma música alta, indefinível. Odeio esse lugar e não suporto o jeito dela dançar, chamando a atenção dos outros.

E é assim que começa: primeiro vem a cerveja, depois o cigarro e depois o sexo.

Todo domingo de manhã é assim, ela se vai cedo, deixando para trás somente o seu inebriante aroma, que me vicia.

O cheiro de cerveja, cigarro e sexo.

25 setembro, 2007

Manipulação

Uma mulher de idade entre 20 e 25 anos entra em uma farmácia, na fachada se lê: Farmácia de Manipulação.

Mulher: Bom dia, eu gostaria de mandar fazer essa pomada, por favor. – Diz ela entregando a receita ao atendente.
Atendente: Certo, certo... E o que a senhora vai fazer? – Ele responde olhando rapidamente a folha de papel.
Mulher: Como assim?
Atendente: Eu vou mandar fazer a pomada da senhora, e a senhora não vai fazer nada em troca?
Mulher: Em troca? Mas eu vou pagar, meu filho!
Atendente: Ah... Isso não basta não. A senhora não sabe o trabalho que dá fazer um troço desses.
Mulher: Olha, escuta... Essa é uma receita de pomada pra acne, tá vendo essa espinha aqui na minha testa? Sexta-feira eu tenho um encontro e ela tem que ter sumido!
Atendente: Eu entendo perfeitamente o seu problema, mas a senhora tem que se pôr no meu lugar também, né?
Mulher: Mas você está querendo me manipular!
Atendente: A senhora não leu a placa na entrada não? Tá escrito “Farmácia de Manipulação”, tava esperando o que?
Mulher: Isso é um absurdo!
Atendente: Mas é isso aí, vai fazer ou não?
Mulher: Fazer o que? Claro que não!
Atendente: A senhora conhece a Ivete Sangalo?
Mulher: Se eu conheço... Claro que conheço, o que é que tem a Ivete Sangalo?
Atendente: Pois é, eu quero que a senhora vá daqui até o outro lado da rua só de calcinha e sutiã cantando aquela música da poeira.
Mulher: Eu quero falar com o gerente!
Atendente: Só um minuto.

O atendente entra por uma porta e volta em poucos segundos com o gerente lhe acompanhando.

Gerente: Pois não?
Mulher: O seu funcionário deve estar com algum problema, eu vim aqui encomendar uma pomada e ele quer que eu fique nua!
Atendente: Nua não minha senhora, isso aqui é um estabelecimento de respeito, eu pedi que a senhora atravessasse a rua de calcinha e sutiã cantando a música da poeira.
Mulher: Eu não vou cantar merda de música nenhuma!
Gerente: Minha senhora, isso aqui é uma farmácia de manipulação, a senhora não precisa da pomada?
Mulher: Preciso.
Gerente: Então vai ter que atravessar a rua de calcinha e sutiã cantando a música da poeira.

A mulher não acredita no que está ouvindo, só pode ser uma pegadinha, olha pra cara do atendente e do gerente, os dois estão muito sérios, ela não conhece outra farmácia, pensa no encontro de sexta-feira, olha pra rua, até que não está muito movimentada, passa exatos cinco minutos em silêncio, e volta a olhar para os dois funcionários da farmácia de manipulação.

Mulher: Tudo bem! Mas eu vou correndo!

06 setembro, 2007

No cabeleireiro

Cabeleireira: Tem alguma preferência?
Eu: É só pra aparar em cima, dos lados e atrás pode cortar bem.

tic tic tic

Cabeleireira: Você trabalha... estuda... ?
Eu: Estudo... comunicação.
Cabeleireira: Deve ser bem comunicativo então... hehehe.
Eu: Demais!

Depois de 20 minutos de total silêncio e muito tic tic tic:

Cabeleireira: Pronto.
Eu: Muito obrigado.

16 junho, 2007

Concurso

Recentemente, para concorrer em um concurso literário, editei um conto que publiquei aqui no blog há algum tempo atrás. Como a inspiração anda fraca por aqui, eis a nova versão:
Sensações
No início havia Renato e Carla, Marcos e Isabel.
Renato e Marcos se conheceram no colégio, estudavam sempre juntos e eram grandes amigos, Isabel cresceu com Carla, desde crianças se consideravam melhores amigas. Renato era namorado de Carla e Isabel namorava Marcos.
Isso foi há quatro anos, agora Isabel estava estudando no Rio de Janeiro e noiva de outro rapaz, Renato estava namorando outra menina e acabando sua pós-graduação. Os dois não se viam há muito tempo e aquela ida dele ao Rio para assistir algumas palestras parecia a ocasião ideal para se reverem e colocarem o papo em dia.
As palestras iriam lhe ocupar a semana inteira, combinaram então de se encontrar no fim de semana, ele tinha que passar em algum Shopping para comprar uma lembrança para a namorada, que havia ficado muito enciumada com essa história de ele ir encontrar uma antiga amiga que ela nem sequer conhecia.
O noivo de Isabel conhecia Renato “de vista” e não havia dado nenhuma opinião contra ou a favor desse reencontro. Confiava nela, estava quase tudo certo para o casamento no meio do ano seguinte, assim que ela retornasse à sua cidade natal. Tinha até mandado por Renato um presente de aniversário atrasado, já que não havia conseguido ir ao Rio na ocasião em que Isabel completou vinte e cinco anos.
Na verdade, nos tempos em que estavam com seus antigos pares, Renato e Isabel nem se falavam muito. Nada além de conversas sobre coisas em geral como algum filme que ele havia gostado ou uma banda que ela estivesse ouvindo. Algum tempo depois dela viajar, já noiva, ele, solteiro, estava limpando sua caixa de e-mails e achou o endereço eletrônico dela. Resolveu mandar um “oi” para perguntar como estavam as coisas, passaram a conversar bastante via Internet desde então.
Renato chegou no Rio na segunda-feira, na quinta à noite ele ligou para Isabel. Conversaram sobre as palestras dele, as aulas dela, ela falou sobre como era difícil morar longe dos amigos e que estava muito feliz porque ele estava lá. Combinaram então de se encontrar em um Shopping no sábado. Uma estranha inquietação tomou conta dela.
Chegado o sábado, Renato já havia arrumado todas suas coisas, visto que no domingo faria sua viagem de volta. Pegou um táxi até o Shopping e foi até o local onde haviam combinado de se encontrar. Ela havia chegado um pouco antes do horário marcado, aproveitou para comprar uma lembrança para ele e depois seguiu para a loja onde havia pedido para ele esperá-la.
Ele já estava lá, abraçaram-se demoradamente, sem disfarçar o contentamento de se verem novamente após tanto tempo. – Pra você. – disse ela entregando uma caixinha a ele. – Ah... Obrigado, olha o que o teu noivo mandou. – disse Renato passando para ela um pequeno embrulho – E esse é meu, pra você – dando-lhe agora uma caixa consideravelmente maior. – Olha... Não precisava, viu? A anfitriã aqui sou eu. – ela disse, ficando um pouco envergonhada.
Foram almoçar e conversaram muito, sobre seus relacionamentos, sobre a experiência dela de ir morar sozinha no Rio, sobre o medo que ela sentiu nas noites das primeiras semanas.
Mas agora está tudo bem, né? – ele disse segurando a mão dela. – É... Tá sim... – ela respondeu, apertando um pouco a mão dele. Renato não soube o que dizer e apenas ficou olhando-a. – Então, vamos comprar o presente? – ela disse, para interromper aquele momento estranho. – Que presente? – ele respondeu, ainda meio atrapalhado. – Para a sua namorada, menino! – ela disse brincando, como se estivesse chamando a atenção dele. – Ah... Sim, vamos sim! – falou Renato, enquanto se levantava da cadeira.
Ele terminou por comprar uma blusa que Isabel escolheu, porque não tinha a menor idéia do que dar para a namorada, que nem se fazia presente nos seus pensamentos naquele momento, estava com uma sensação esquisita que não conseguia entender. Resolveram ir ao cinema, ele pagou pelos dois ingressos sem se importar com os protestos dela.
Ao fim da tarde resolveram caminhar pelo calçadão até o apartamento dela. Isabel ia dizendo a Renato que fazia tempos que não se divertia tanto, agradeceu pelo dia que tiveram e também pelo ingresso do cinema. Pararam na porta do prédio e ficaram frente a frente de mãos dadas. Um beijo num rosto, no outro e um terceiro, inesperado, na boca.
Quer subir? – ela. – Quero. – ele.
Na manhã seguinte Renato saiu do prédio segurando o presente da namorada, a sensação esquisita agora lhe apertava o coração, mas ele já não se importava mais com isso.

16 maio, 2007

Esperanças

Todo mundo espera alguma coisa. Muitos esperam tempos melhores, aumentos salariais, boas novas... ter menos azar, ter mais sorte. Boa sorte no jogo, boa sorte no amor, boa sorte na vida. Ônibus, aviões, carros, família, amigos, amores, amantes, pessoas especiais... Ter mais dinheiro, mais disposição, mais saúde, mais energia, mais vontade, ter mais tempo... alguns esperam enganar a morte e outros a esperam placidamente. Amor, paixão, amizade, compreensão, cumplicidade, carinho, lealdade... poucos esperam a felicidade. Muitos, inutilmente, a perseguem. Voltar para casa, sair de casa, sair e voltar, voltar e sair e voltar de novo. Esquecer o passado, viver o presente e planejar o futuro. Eu espero, tu esperas, ele espera, nós esperamos, vós esperais, eles esperam. Todo mundo espera alguma coisa, e você, ta esperando o que?

08 maio, 2007

Amor em tempos de Papa



É de conhecimento público que a beleza feminina não escapa dos olhos de nenhum homem que se preze. O cidadão pode ter 95 anos, mas se cruza com um belo exemplar do sexo feminino na rua pode crer que, pelo menos em pensamento, ele dirá “ê lá em casa!”.

Aproveitando a visita do Papa Bento XVI ao Brasil, sugiro que mudemos a forma de expressar o contentamento ao avistar esses seres, que podem não fazer a existência humana mais descomplicada e tranqüila, mas pelo menos a fazem mais bonita.

Seja você advogado, professor, entregador de panfletos hare krishna ou atendente do Mcdonalds, solte o seu pedreiro interior e troque o “gostosa!” de cada dia pelas sugestões abaixo. Heresia pouca é bobagem.

Comecemos com o básico: você está caminhando despreocupadamente quando surge em seu caminho uma bela moça do tipo mignon. Não é nada de parar o trânsito, mas só para não passar em branco solte um “Nossa Senhora”. Dependendo da mignonzice da pequena você ainda pode emendar um “de Aparecida, do Perpétuo Socorro, de Nazaré...” o nome da santa pode variar de região em região ou dependendo da devoção do filho de Deus.

Outra situação: meio dia na fila do banco, você pensou que chegando na hora do almoço conseguiria pagar mais rápido aquela conta atrasada e ainda ter tempo para comer alguma coisa antes de voltar ao trabalho. Mas acontece que outros quarenta infelizes tiveram a mesma idéia, e para completar não param de chegar aqueles velhinhos, cujo único prazer que lhes restou na vida foi passar na frente dos outros. De repente, da mesa que fica no canto mais distante da sala, se levanta a gerente que, pelos seus cálculos, deve ter aproximadamente 1,75 só de pernas, trajando aquelas saias que terminam no exato ponto em que seu pensamento começa. Ignore as pontadas de fome no seu estomago e mande logo um sonoro “Deus seja louvado”.

Academia, um lugar onde as mulheres usam roupas mais justas que o julgamento do Divino. Você, meio a contragosto, está tentando entrar na moda do corpo sarado, sabe que está num ambiente semelhante a uma loja de ternos da Armani: é tudo muito bonito, mas é só pra olhar. Como olhar ainda não é pecado você olha mesmo, bicicletas ergométricas, esteiras, aparelhos de musculação, as beldades estão por todos os lados exercitando seus músculos femorais, abdominais e peitorais (tentativa de trocadilho infame, mas não é que existe mesmo a denominação músculos peitorais?). Até que surge aquela professora de spinning, que é uma mistura de Cicarelli com Piovani e mais uma pitada de Hickmann. Você, embasbacado, quase deixa os alteres caírem no chão ao exclamar: “Ai meu Padre Cícero” ou “Ai meu Padim Ciço” caso seja realmente conterrâneo do Didi Mocó.

Enfim, existem milhares de outros exemplos que podem ser utilizados para elogiar essas mulheres que nem sempre se chamam Maria, mas que são cheias de graça. Eu vou parar por aqui, pois minha criação católica já me faz este texto pesar na consciência. Pelo menos não fui eu quem falou que se Deus inventou alguma coisa melhor que mulher, guardou para si. Esse sim vai arder no mármore dos infernos.

Amém.

01 maio, 2007

Era uma vez...

Era uma vez um escritor que odiava histórias que começam com “Era uma vez...”, mas já que começamos desse modo, que assim seja. Pois bem, esse escritor não conseguia dormir, então resolveu sentar na frente do computador exatamente as 04:21 da madrugada de uma quarta-feira para escrever uma história completamente improvável de tão estranha que era.

Escreveu “era uma vez” e ficou profundamente irritado. Amaldiçoou todos os contos de carochinha que haviam lhe contado, mas depois se arrependeu, pois haviam sido estes mesmos contos que lhe haviam despertado o gosto pela escrita e pela leitura, muitos anos antes.

Decidiu então escrever sobre um casal de insones que mal se conheciam, mas não conseguiam parar de conversar. Sentavam frente a frente e falavam, falavam e falavam horas a fio. O rapaz, como sempre, era o mais bobo: falava da beleza da moça, falava, falava e falava. E a moça, coitada, embevecida que estava com tanto falatório, tanta retórica, tanta lenga-lenga do rapaz, pensava: Esse rapaz me parece sério! E olhando de certo ângulo até que é bonitinho. Enganava-se.

E assim seguiam: falando, rindo, falando, trocando olhares, falando e rindo mais um pouco. “Mas que loucura é essa?”, “que assuntos esses dois tanto têm?”, indagava-se o escritor, mas não parava de escrever. “Se é pra sair uma história tão improvável e louca, que no final pode acabar se tornando realidade, então assim será!”, decidiu-se finalmente.

Estranhamente um sensato apontamento veio por parte do bobo rapaz - vamos dar um passo de cada vez - disse ele - ao que a bela moça prontamente concordou - sim, subiremos um degrau por dia -. - Haja degrau! - Exclamou o bobo – No final teremos um prédio de fundações fortes que resistirão a tudo. – finalizou a bela.

“Essa história só poderia mesmo ter começado com `Era uma vez...`”, pensou o escritor. E decidiu continuariam assim, o bobo e a bela: conversando, sorrindo, caminhando um passo por vez e subindo um degrau por dia. E o que foi feito do escritor? Este foi deitar-se, esperando ansiosamente o fim de suas insones noites.

07 março, 2007

Encontros e Desencontros

Certa vez, um cara conhecido como poetinha disse que a vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida. Provavelmente essa deve ser uma das citações românticas mais repetidas em correntes via e-mail, perfis de orkut e nicks no MSN. Não tenho dúvidas que até antes de toda essa parafernália cibernética se tornar tão comum no nosso dia-a-dia os amantes e amados trocavam cartinhas, bilhetinhos, declarações em geral onde a tal frase se fazia presente. Foi repetida a tal ponto que deve ter ser tornado chavão, clichê ou frase feita. Mas não para mim.

A vida é sim a arte do encontro e do desencontro, infelizmente muita gente passa desapercebida diante da beleza disso. É claro que as vezes precisamos chorar nossos desencontros, mas nem a mais dolorosa sensação da partida do ser amado consegue ser maior do que a sensação do encontro. Não estou falando do primeiro encontro de duas pessoas, onde pode acontecer somente um tímido aperto de mãos ou duas horas de selvageria num quarto escuro, mas sim daquela sensação de ter encontrado realmente alguém que vale a pena ficar remoendo na memória cada frase dita, cada olhar e cada sorriso.

Ciumento que sou, devo ter repetido como um mantra milhões de vezes em todos os meus relacionamentos a frase fantasticamente elaborada por Vinicius de Moraes. Para poder entender que ninguém é dono de ninguém e que as pessoas vêm e vão, se conhecem, se amam e eventualmente partem para outra. Felizmente há algum tempo consegui compreender que a felicidade de um beijo e a tristeza de um último olhar são igualmente belos e são momentos únicos na vida de quem se permite encontrar e desencontrar.

Vinicius, do alto de sua sapiência, sabia muito bem do que estava falando. Ele que deve ter amado e desamado, sorrido e sofrido, encontrado e desencontrado muitas vezes nessa vida nos deixou um ensinamento e tanto. O amor não deve ser banalizado, porém ninguém merece carregar por muito tempo um sorriso amarelo no rosto e um tom azulado na alma por causa da tristeza de um rompimento, a vida é curta e não pára pra esperar ninguém enxugar suas lágrimas e mágoas. Vinicius conseguiu entender isso e sabia que toda a felicidade do mundo estava nesta compreensão.