16 maio, 2007

Esperanças

Todo mundo espera alguma coisa. Muitos esperam tempos melhores, aumentos salariais, boas novas... ter menos azar, ter mais sorte. Boa sorte no jogo, boa sorte no amor, boa sorte na vida. Ônibus, aviões, carros, família, amigos, amores, amantes, pessoas especiais... Ter mais dinheiro, mais disposição, mais saúde, mais energia, mais vontade, ter mais tempo... alguns esperam enganar a morte e outros a esperam placidamente. Amor, paixão, amizade, compreensão, cumplicidade, carinho, lealdade... poucos esperam a felicidade. Muitos, inutilmente, a perseguem. Voltar para casa, sair de casa, sair e voltar, voltar e sair e voltar de novo. Esquecer o passado, viver o presente e planejar o futuro. Eu espero, tu esperas, ele espera, nós esperamos, vós esperais, eles esperam. Todo mundo espera alguma coisa, e você, ta esperando o que?

08 maio, 2007

Amor em tempos de Papa



É de conhecimento público que a beleza feminina não escapa dos olhos de nenhum homem que se preze. O cidadão pode ter 95 anos, mas se cruza com um belo exemplar do sexo feminino na rua pode crer que, pelo menos em pensamento, ele dirá “ê lá em casa!”.

Aproveitando a visita do Papa Bento XVI ao Brasil, sugiro que mudemos a forma de expressar o contentamento ao avistar esses seres, que podem não fazer a existência humana mais descomplicada e tranqüila, mas pelo menos a fazem mais bonita.

Seja você advogado, professor, entregador de panfletos hare krishna ou atendente do Mcdonalds, solte o seu pedreiro interior e troque o “gostosa!” de cada dia pelas sugestões abaixo. Heresia pouca é bobagem.

Comecemos com o básico: você está caminhando despreocupadamente quando surge em seu caminho uma bela moça do tipo mignon. Não é nada de parar o trânsito, mas só para não passar em branco solte um “Nossa Senhora”. Dependendo da mignonzice da pequena você ainda pode emendar um “de Aparecida, do Perpétuo Socorro, de Nazaré...” o nome da santa pode variar de região em região ou dependendo da devoção do filho de Deus.

Outra situação: meio dia na fila do banco, você pensou que chegando na hora do almoço conseguiria pagar mais rápido aquela conta atrasada e ainda ter tempo para comer alguma coisa antes de voltar ao trabalho. Mas acontece que outros quarenta infelizes tiveram a mesma idéia, e para completar não param de chegar aqueles velhinhos, cujo único prazer que lhes restou na vida foi passar na frente dos outros. De repente, da mesa que fica no canto mais distante da sala, se levanta a gerente que, pelos seus cálculos, deve ter aproximadamente 1,75 só de pernas, trajando aquelas saias que terminam no exato ponto em que seu pensamento começa. Ignore as pontadas de fome no seu estomago e mande logo um sonoro “Deus seja louvado”.

Academia, um lugar onde as mulheres usam roupas mais justas que o julgamento do Divino. Você, meio a contragosto, está tentando entrar na moda do corpo sarado, sabe que está num ambiente semelhante a uma loja de ternos da Armani: é tudo muito bonito, mas é só pra olhar. Como olhar ainda não é pecado você olha mesmo, bicicletas ergométricas, esteiras, aparelhos de musculação, as beldades estão por todos os lados exercitando seus músculos femorais, abdominais e peitorais (tentativa de trocadilho infame, mas não é que existe mesmo a denominação músculos peitorais?). Até que surge aquela professora de spinning, que é uma mistura de Cicarelli com Piovani e mais uma pitada de Hickmann. Você, embasbacado, quase deixa os alteres caírem no chão ao exclamar: “Ai meu Padre Cícero” ou “Ai meu Padim Ciço” caso seja realmente conterrâneo do Didi Mocó.

Enfim, existem milhares de outros exemplos que podem ser utilizados para elogiar essas mulheres que nem sempre se chamam Maria, mas que são cheias de graça. Eu vou parar por aqui, pois minha criação católica já me faz este texto pesar na consciência. Pelo menos não fui eu quem falou que se Deus inventou alguma coisa melhor que mulher, guardou para si. Esse sim vai arder no mármore dos infernos.

Amém.

01 maio, 2007

Era uma vez...

Era uma vez um escritor que odiava histórias que começam com “Era uma vez...”, mas já que começamos desse modo, que assim seja. Pois bem, esse escritor não conseguia dormir, então resolveu sentar na frente do computador exatamente as 04:21 da madrugada de uma quarta-feira para escrever uma história completamente improvável de tão estranha que era.

Escreveu “era uma vez” e ficou profundamente irritado. Amaldiçoou todos os contos de carochinha que haviam lhe contado, mas depois se arrependeu, pois haviam sido estes mesmos contos que lhe haviam despertado o gosto pela escrita e pela leitura, muitos anos antes.

Decidiu então escrever sobre um casal de insones que mal se conheciam, mas não conseguiam parar de conversar. Sentavam frente a frente e falavam, falavam e falavam horas a fio. O rapaz, como sempre, era o mais bobo: falava da beleza da moça, falava, falava e falava. E a moça, coitada, embevecida que estava com tanto falatório, tanta retórica, tanta lenga-lenga do rapaz, pensava: Esse rapaz me parece sério! E olhando de certo ângulo até que é bonitinho. Enganava-se.

E assim seguiam: falando, rindo, falando, trocando olhares, falando e rindo mais um pouco. “Mas que loucura é essa?”, “que assuntos esses dois tanto têm?”, indagava-se o escritor, mas não parava de escrever. “Se é pra sair uma história tão improvável e louca, que no final pode acabar se tornando realidade, então assim será!”, decidiu-se finalmente.

Estranhamente um sensato apontamento veio por parte do bobo rapaz - vamos dar um passo de cada vez - disse ele - ao que a bela moça prontamente concordou - sim, subiremos um degrau por dia -. - Haja degrau! - Exclamou o bobo – No final teremos um prédio de fundações fortes que resistirão a tudo. – finalizou a bela.

“Essa história só poderia mesmo ter começado com `Era uma vez...`”, pensou o escritor. E decidiu continuariam assim, o bobo e a bela: conversando, sorrindo, caminhando um passo por vez e subindo um degrau por dia. E o que foi feito do escritor? Este foi deitar-se, esperando ansiosamente o fim de suas insones noites.