15 junho, 2006

Insanidade

Passou o dia inquieto, tramando planos, ensaiando vozes, inventando diálogos e imitando passos de dança que via nos bailinhos quando era criança. Falava sozinho, ria, gargalhava, finalmente seu dia ia chegar, tudo seria seu, tudo o que havia sonhado se realizaria, vinha se preparando para aquilo há trinta anos, trinta anos meu Deus!

Finalmente havia descoberto como fazê-lo, e seria a primeira coisa a fazer na manhã do dia seguinte, todos iriam saber quem ele era, outrora rejeitado, agora seria erguido pelas massas, a glória enfim!

Iria sim! Iria finalmente dominar o mundo, tudo sempre estivera ali: a um palmo de seu nariz e para ele tudo parecia nebuloso, mas não mais! Não mais! Gritava de excitamento, corria pelo corredor, depois se virava e corria tudo de novo. Ele era o homem certo na hora certa e amanhã todos iam saber disso, “por hoje basta”, pensou, “mundo prepara-te para mim. Por que amanhã, conhecer-me-ás!”. Tomou um copo de leite e foi dormir.

01 junho, 2006

Fernando e Ana Rosa

Fernando e Ana Rosa eram almas gêmeas, só que não se conheciam.
Certo dia Fernando e Ana Rosa estavam esperando o ônibus que os levaria para a faculdade. Quando o ônibus chegasse Ana Rosa entraria primeiro e Fernando viria logo atrás, sentariam-se lado a lado e perceberiam que estavam usando o mesmo modelo de tênis, Fernando faria algum comentário engraçadinho do tipo “tênis bonito, o seu” Ana Rosa iria sorrir, concordaria e diria que já estava meio gasto “aqui, no calcanhar”, Fernando responderia que o seu também “mas um pouco aqui pra frente, ta vendo?”. Ao chegar no campus perceberiam que os prédios de seus cursos ficavam frente a frente, ela economia e ele publicidade. Em um ano e meio estariam casados.
Mas quis o destino, ou alguma coisa que o valha, que depois que Ana Rosa subiu no ônibus, um japonês apressado tenha saído correndo e furado a fila, impedindo que Fernando sentasse ao seu lado.
Fernando e Ana Rosa jamais se conheceram e a vida seguiu seu rumo.