16 junho, 2007

Concurso

Recentemente, para concorrer em um concurso literário, editei um conto que publiquei aqui no blog há algum tempo atrás. Como a inspiração anda fraca por aqui, eis a nova versão:
Sensações
No início havia Renato e Carla, Marcos e Isabel.
Renato e Marcos se conheceram no colégio, estudavam sempre juntos e eram grandes amigos, Isabel cresceu com Carla, desde crianças se consideravam melhores amigas. Renato era namorado de Carla e Isabel namorava Marcos.
Isso foi há quatro anos, agora Isabel estava estudando no Rio de Janeiro e noiva de outro rapaz, Renato estava namorando outra menina e acabando sua pós-graduação. Os dois não se viam há muito tempo e aquela ida dele ao Rio para assistir algumas palestras parecia a ocasião ideal para se reverem e colocarem o papo em dia.
As palestras iriam lhe ocupar a semana inteira, combinaram então de se encontrar no fim de semana, ele tinha que passar em algum Shopping para comprar uma lembrança para a namorada, que havia ficado muito enciumada com essa história de ele ir encontrar uma antiga amiga que ela nem sequer conhecia.
O noivo de Isabel conhecia Renato “de vista” e não havia dado nenhuma opinião contra ou a favor desse reencontro. Confiava nela, estava quase tudo certo para o casamento no meio do ano seguinte, assim que ela retornasse à sua cidade natal. Tinha até mandado por Renato um presente de aniversário atrasado, já que não havia conseguido ir ao Rio na ocasião em que Isabel completou vinte e cinco anos.
Na verdade, nos tempos em que estavam com seus antigos pares, Renato e Isabel nem se falavam muito. Nada além de conversas sobre coisas em geral como algum filme que ele havia gostado ou uma banda que ela estivesse ouvindo. Algum tempo depois dela viajar, já noiva, ele, solteiro, estava limpando sua caixa de e-mails e achou o endereço eletrônico dela. Resolveu mandar um “oi” para perguntar como estavam as coisas, passaram a conversar bastante via Internet desde então.
Renato chegou no Rio na segunda-feira, na quinta à noite ele ligou para Isabel. Conversaram sobre as palestras dele, as aulas dela, ela falou sobre como era difícil morar longe dos amigos e que estava muito feliz porque ele estava lá. Combinaram então de se encontrar em um Shopping no sábado. Uma estranha inquietação tomou conta dela.
Chegado o sábado, Renato já havia arrumado todas suas coisas, visto que no domingo faria sua viagem de volta. Pegou um táxi até o Shopping e foi até o local onde haviam combinado de se encontrar. Ela havia chegado um pouco antes do horário marcado, aproveitou para comprar uma lembrança para ele e depois seguiu para a loja onde havia pedido para ele esperá-la.
Ele já estava lá, abraçaram-se demoradamente, sem disfarçar o contentamento de se verem novamente após tanto tempo. – Pra você. – disse ela entregando uma caixinha a ele. – Ah... Obrigado, olha o que o teu noivo mandou. – disse Renato passando para ela um pequeno embrulho – E esse é meu, pra você – dando-lhe agora uma caixa consideravelmente maior. – Olha... Não precisava, viu? A anfitriã aqui sou eu. – ela disse, ficando um pouco envergonhada.
Foram almoçar e conversaram muito, sobre seus relacionamentos, sobre a experiência dela de ir morar sozinha no Rio, sobre o medo que ela sentiu nas noites das primeiras semanas.
Mas agora está tudo bem, né? – ele disse segurando a mão dela. – É... Tá sim... – ela respondeu, apertando um pouco a mão dele. Renato não soube o que dizer e apenas ficou olhando-a. – Então, vamos comprar o presente? – ela disse, para interromper aquele momento estranho. – Que presente? – ele respondeu, ainda meio atrapalhado. – Para a sua namorada, menino! – ela disse brincando, como se estivesse chamando a atenção dele. – Ah... Sim, vamos sim! – falou Renato, enquanto se levantava da cadeira.
Ele terminou por comprar uma blusa que Isabel escolheu, porque não tinha a menor idéia do que dar para a namorada, que nem se fazia presente nos seus pensamentos naquele momento, estava com uma sensação esquisita que não conseguia entender. Resolveram ir ao cinema, ele pagou pelos dois ingressos sem se importar com os protestos dela.
Ao fim da tarde resolveram caminhar pelo calçadão até o apartamento dela. Isabel ia dizendo a Renato que fazia tempos que não se divertia tanto, agradeceu pelo dia que tiveram e também pelo ingresso do cinema. Pararam na porta do prédio e ficaram frente a frente de mãos dadas. Um beijo num rosto, no outro e um terceiro, inesperado, na boca.
Quer subir? – ela. – Quero. – ele.
Na manhã seguinte Renato saiu do prédio segurando o presente da namorada, a sensação esquisita agora lhe apertava o coração, mas ele já não se importava mais com isso.