12 outubro, 2005

Sensações

Ele conheceu o namorado dela no colégio, estudavam sempre juntos e eram grandes amigos, Ela havia crescido com a namorada dele, desde crianças se consideravam melhores amigas, os quatro ocasionalmente saiam juntos, iam a cinemas, festas, jantares...
Isso tinha sido há quatro anos, agora Ela estava estudando no Rio de Janeiro e estava noiva de outro rapaz, Ele estava namorando outra e acabando sua pós-graduação, não se viam há muito tempo e aquela ida dele ao Rio para assistir algumas palestras parecia a ocasião ideal para se reverem e colocarem o papo em dia.
As palestras iriam lhe ocupar a semana inteira, combinaram então de se encontrarem no fim de semana, Ele também teria que passar em algum Shopping Center para comprar uma lembrança para a namorada que havia ficado muito enciumada com essa história de ele ir encontrar uma antiga amiga que ela nem sequer conhecia.
O noivo dela, que o conhecia “de vista”, não havia dado nenhuma opinião contra ou a favor desse reencontro. Confiava nela, estava quase tudo certo para o casamento no meio do ano seguinte, quando Ela retornasse a Belém. O noivo até tinha mandado por Ele um presente de aniversário atrasado, já que não havia conseguido ir ao Rio na ocasião em que Ela completou vinte e cinco anos.
Na verdade, nos tempos em que estavam com seus antigos pares, os dois nem se falavam muito, nada além do que conversas sobre coisas em geral como algum filme que Ele havia gostado ou uma banda que Ela estivesse ouvindo. Algum tempo depois dela viajar, já noiva, Ele, solteiro, estava limpando sua caixa de e-mails e achou o endereço eletrônico dela, resolveu mandar um “oi” para perguntar como estavam as coisas. Passaram a conversar bastante via internet desde então.
Chegou então a semana da viagem dele ao Rio, sua namorada mais uma vez lhe falou que nunca ia perdoar qualquer coisa que ele fizesse, e mais uma vez ele a tranqüilizou dizendo que nunca nada havia acontecido entre eles e não era agora que ia acontecer. Ele achava engraçado essa insegurança da namorada, estavam juntos há poucos meses, ainda não era algo muito firme, mas Ele pretendia levar o namoro a sério.
Na quinta-feira a noite Ele ligou para Ela, conversaram sobre as palestras dele, as aulas dela, Ela falou sobre como era difícil morar longe dos amigos e que estava muito feliz porque Ele estava por lá. Combinaram então de se encontrar em um Shopping Center na manhã de sábado. Uma estranha inquietação tomou conta dela.
Chegado o sábado Ele já havia arrumado todas suas coisas, visto que no domingo viajaria de volta para Belém, deixou fora da mala apenas a roupa que iria usar para Sair com Ela e a roupa da viagem. Pegou um táxi até o Shopping e foi até o local onde haviam combinado de se encontrar. Ela havia chegado um pouco antes do horário marcado, aproveitou para comprar uma lembrança para Ele e depois seguiu pra frente da loja onde havia pedido para ele esperá-la.
Ele já estava lá, abraçaram-se demoradamente, sem disfarçar o contentamento de se verem novamente após tanto tempo.

- Pra você. – disse ela entregando uma caixinha a Ele.
- Ah... Obrigado, olha o que o teu noivo mandou. – disse, entregando a ela um pequeno embrulho – E esse é meu, pra você – dando-lhe agora uma caixa consideravelmente maior.
- Olha... Não precisava, viu? A anfitriã aqui sou eu. – Ela disse, ficando um pouco envergonhada.

Foram almoçar, conversaram muito, sobre Belém, sobre as pessoas chatas de Belém, sobre a experiência dela de ir morar sozinha no Rio, sobre o medo que Ela sentiu nas noites das primeiras semanas...

- Mas agora tá tudo bem, né? – Ele disse segurando a mão dela.
- É... Tá sim... – ela respondeu, apertando um pouco a mão dele.
- ...
- Vamos comprar então o presente? – Ela disse, pra interromper aquele momento estranho.
- Pra quem? – Ele respondeu, ainda meio atrapalhado.
- Da tua namorada, menino!
- Ah... Sim, vamos sim!

E se levantaram. Passearam um pouco, entraram em várias lojas, compraram uma blusa que Ela escolheu, porque Ele não tinha a menor idéia do que comprar para a namorada, que nem se fazia presente nos pensamentos dele naquele momento, estava com uma sensação esquisita que Ele não conseguia entender. Resolveram ir ao cinema, Ele pagou pelos dois ingressos sem se importar com os protestos dela.
Ao fim da tarde resolveram caminhar pelo calçadão até o apartamento dela, Ela ia dizendo a Ele que fazia tempos que não se divertia tanto, agradeceu pelo dia que tiveram e também pelo ingresso do cinema. Pararam na porta do prédio e ficaram frente a frente de mãos dadas, um beijo num rosto, no outro e um terceiro, inesperado, na boca.

- Quer subir? – Ela.
- Quero. – Ele.

Na manhã seguinte Ele saiu do prédio segurando o presente da namorada, a sensação esquisita agora lhe apertava o coração, mas ele já não se importava mais com isso.